Exame é responsável por abrir as portas para a residência e revalidar o diploma internacional
O sonho de exercer a Medicina no exterior, para muitos, começa ainda na faculdade. Para outros, esse desejo surge após algum tempo de experiência na carreira. Seja como for, a residência médica nos Estados Unidos é uma das primeiras opções para boa parte dos brasileiros que pretendem sair do país.
Mas você sabe como funciona o processo para trabalhar como médico nos EUA? Já ouviu falar do USMLE? Sabe o que é o “Match Day”?
Para exercer Medicina nos Estados Unidos, todo mundo começa com o mesmo desafio: passar nas provas do United States Medical Licensing Examination (USMLE). A prova é pré-requisito para todos que desejam entrar em algum programa de residência por lá.
“Mas eu já tenho a minha especialidade, não posso simplesmente revalidar a especialidade?”
Não. Ainda que o profissional já tenha participado de um programa em seu país de origem, a residência médica em território estadunidense é pré-requisito mor.
Dessa forma, um international medical graduate (IMG) que deseja ser médico nos Estados Unidos precisa da certificação do Education Comission for Foreign Medical Graduates (ECFMG). Ela só acontece após a conclusão do programa de residência médica.
Antes de sair correndo para se inscrever, existem alguns passos importantes para se cumprir.
Sua faculdade é reconhecida internacionalmente?
Sim, essa é uma preocupação que você precisa ter. Por isso, um dos primeiros passos é verificar se a universidade em que você se formou tem a famosa sponsor note no WDOMS.
Mas o que isso significa?
O World Directory of Medical Schools (WDOMS) é a principal referência para instituições nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Dinamarca e Coreia do Sul.
Para fazer a equivalência da sua graduação, os conselhos de Medicina destes países exigem que você tenha se formado em uma universidade reconhecida pelo diretório.
É nele que estão listadas todas as escolas de Medicina do mundo.
Caso você não saiba se a universidade em que você se formou tem uma sponsor note, é possível consultar no site da instituição: search.wdoms.org – veja um passo a passo para a consulta neste post.
O exame
O USMLE é conduzido pela Federation of State Medical Boards (FSMB) e pela National Board of Medical Examiners (NBME). Ele é formado por três etapas:
- Step 1 (ciclo básico);
- Step 2 CK (ciclo clínico);
- Step 3 (clínica avançada e prática independente).
Cada uma delas cobra um tipo de conteúdo distinto. As duas primeiras fases podem ser feitas em um Prometric Center, aqui no Brasil mesmo.
- Leia também: Você sabe o que é um Prometric Center?
É possível fazer até 4 tentativas de aprovação em cada etapa. Essa é uma regra que começou a valer no segundo semestre de 2021 – antes era possível tentar até seis vezes..
A primeira fase: Step 1
O Step 1 é uma prova para testar seus conhecimentos sobre as Ciências Básicas, ou seja, aquelas matérias que você vê nos primeiros anos de faculdade: Patologia, Farmacologia, Fisio, Bioquímica, Anatomia e por aí vai…
Você pode se inscrever para a prova a qualquer momento, desde que tenha concluído o Ciclo Básico da escola de Medicina.
As questões são extensas e apresentadas em forma de casos clínicos, o que vai te exigir um bom ritmo para não se perder no tempo.
A prova é dividida em sete blocos, com um total de 280 questões. Cada bloco tem 1h de duração. Terminado o tempo estipulado, o bloco se encerra automaticamente, quer você tenha ou não finalizado suas respostas.
Nos Estados Unidos, os estudantes costumam fazer o Step 1 entre o segundo e o terceiro anos. Apesar de a nota de corte ser 194 (de um total possível de 280), na prática, a média necessária para entrar para uma residência gira em torno de 230, para estudantes americanos, e 235, no caso de estrangeiros.
Mas isso varia muito de ano para ano e de especialidade para especialidade. Para especialidades mais concorridas, como Neurocirurgia, pode ser necessário mais de 245 pontos para candidatos estrangeiros.
Com a complexidade da prova, os estudos precisam estar em dia – por isso, a MBSA oferece diversos módulos para os cursos preparatórios para USMLE, adequando-se à realidade de cada candidato.
A sequência: Step 2
O Step 2 avalia os conhecimentos sobre assuntos específicos e o ideal é que você já esteja numa fase mais avançada – no internato, por exemplo.
O conteúdo cobrado abrange questões sobre o Ciclo Clínico: Medicina Interna (praticamente 50% do total), Ginecologia e Obstetrícia, Psiquiatria, Pediatria, Epidemiologia, Saúde Pública e Cirurgia.
Apesar da nota de corte ser 209, candidatos estrangeiros precisam tirar em torno de 240 para sonhar com a vaga. Em 2018, por exemplo, foram precisos 249 pontos no Step 2, para um estrangeiro entrar para residência em Cirurgia Geral.
Após o cancelamento do Step 2 CS, sobrou apenas o Step 2 CK, que também é teórico. Com isso, o ECFMG passou a cobrar testes de proficiência em inglês.
Ele determina que candidatos à residência médica nos Estados Unidos tenham realizado o Occupational English Test (OET).
- Leia também: Como funciona a prova OET?
A prova também pode ser feita ainda na faculdade, mas o ideal é que seja próximo do fim, já que após a aprovação você estará apto para aplicar para a residência médica nos EUA – assim como qualquer estudante de Medicina estadunidense.
A carta de recomendação
O processo de inscrição aos programas de residência médica nos EUA pedem uma carta de recomendação e você precisa estar preparado para obtê-la.
- Leia também: Como consigo uma boa carta de recomendação?
Se você tiver condições, a melhor opção é se inscrever em programas de estágio nos Estados Unidos. Além de conhecer melhor o sistema médico americano, você terá a chance de formar sua network e aumentar as possibilidades de voltar para a residência no mesmo lugar que te acolheu para estagiar.
- Leia também: Como funciona o fellowship nos Estados Unidos?
Com os estágios, você também vai conseguir as famosas “cartas de recomendação americanas”. A orientação da MBSA é que os candidatos devem ter uma carta de recomendação brasileira, que possa contar sobre sua experiência antes de ir para os Estados Unidos, e outras três de profissionais americanos, que possam falar a seu favor.
- Leia também: Como funciona o observership nos Estados Unidos?
Outro critério super considerado pelos avaliadores, e que normalmente alguns alunos não dão tanta importância, é o personal statement.
Saber contar a sua história, os motivos que o levaram a escolher a medicina, determinada especialidade em particular, o que te leva a querer sair do seu país e ir para os Estados Unidos, quais são as bases do seu compromisso, tudo isso é definitivo na hora de encantar quem vai decidir o seu futuro!
Atenção ao calendário
Universidade reconhecida, provas realizadas e cartas na mão, o próximo passo é ficar atento ao “calendário”. Embora ele não seja oficial (algumas etapas são feitas mediante agendamento), o processo tem momentos bem definidos.
As datas de prova são estabelecidas por meio de agendamento do candidato, mas é preciso ficar atento ao calendário de cada step. Embora haja flexibilidade, as datas de aplicação para os programas de residência tem um período muito específico, que é o mês de setembro.
Ou seja: o seu ano anterior à residência médica nos EUA terá uma agenda apertada!
Não subestime as provas: as notas têm um peso muito grande no processo seletivo. Elas se juntam a outros critérios de elegibilidade, mas notas ruins ou reprovações se tornam red flags.
Seu foco deve ser basicamente: notas e networking.
Cadastro no ERAS
Com todos os documentos em dia, você poderá se cadastrar no Eletronic Residency Application System (ERAS), uma plataforma online, onde você vai fazer o upload de todos os seus documentos e enviar para os programas que desejar.
Depois de aplicar, alguns programas devem te chamar para uma entrevista e você terá que viajar, pois elas são feitas presencialmente, nos hospitais.
É muito importante ter uma ideia de como funciona o calendário de cada processo, para se organizar a tempo. O ERAS abre para upload no fim de junho, início de julho, e sempre é bom se inscrever logo, porque são muitas etapas para concluir. Em meados de setembro, a temporada de aplicação abre e você pode concorrer a quantos programas tiver selecionado.
Novamente, vale lembrar que é bom aplicar logo na abertura, para ter mais chances de ser visto pelas bancas.
Saiba escolher os programas a que vai se candidatar. Candidatos estrangeiros costumam aplicar para 60 a 100 programas – isso mesmo, você não leu errado!
Pesquise para saber quais são as melhores opções para o seu perfil e quais programas têm histórico de receber mais estudantes estrangeiros.
Match Day
Depois de tudo isso, restam as entrevistas, que acontecem normalmente entre outubro e dezembro.
Aí é só aguardar pelo tão sonhado Match (seleção dos candidatos pelos programas), que normalmente é divulgado em março.
Vale a pena?
Com tantas etapas para seguir, pode surgir a dúvida se vale mesmo a pena passar por todas essas etapas.
“O processo é duríssimo, muito puxado. Requer muito esforço físico, mental e emocional e apoio da família, que precisa entender que você não vai ter as mesmas interações sociais (pelo menos não no mesmo nível que antes) e que você vai ter que abrir mão de algumas coisas para ter tempo livre. Mas é possível! Eu consegui e acredito que qualquer um consiga passar – e passar bem! – nessa prova”, conta nosso aluno Ernani Morais. Veja o depoimento completo dele neste post do Blog da Residência Médica no Exterior.